Parnassus

9 04 2010

Terry Gilliam excedeu-se. A idade apurou-lhe a qualidade das suas visões e trouxe-lhe a religiosidade à superfície, ainda que esta seja tão grotesca, humorada e causticamente escrita e rodada à sua maneira do que nos habituou. Na eterna luta entre o bem e o mal, o diabo (Mr. Nick) é bem sucedido e está em toda a parte enquanto Deus, personificado no Dr. Parnassus, não passa de um decadente número de feira.

A clássica história da vida eterna que é trocada pela experiência do amor por uma humana é recontada enquanto memória de um pacto com o diabo, com quem Parnassus tem uma relação permanente de aproximações e afastamentos, como duas faces da mesma moeda que é constantemente atirada ao ar num jogo em que ambos podem ser cara ou coroa.

Pelos meios que caracterizam o seu imaginário e ilustrações desde os tempos dos Monty Pythons, Terry Gilliam oferece-nos uma visão de como é possível conquistar a imortalidade e enganar o diabo através amor e dos seus frutos. Talvez este filme seja um olhar retrospectivo do próprio Gilliam para o seu percurso e para o que dele já conquistou ou irá conquistar a permanência na posteridade. Pela religiosidade do seu olhar, não deixa de ser um filme surpreendente e a não perder.

Christopher Plummer e Tom Waits estão magníficos na pele de Parnassus e Mr. Nick. Heath Ledger aparece num das suas últimas representações, partilhando o seu personagem com Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell. Lily Cole é a presença feminina cujo(s) personagem(ns) faz(em) de centro da história.